terça-feira, 22 de novembro de 2022

Fala

Eu falo. Falo muito. Falo pelos cotovelos. Tagarela, espevitada, ansiosa e acelerada.

Falo acordando, ao caminhar, comendo, brincando, chorando, dormindo.

Falo porque existo. Porque preciso estar consciente do que sinto.
Falo porque o peito grita. Para me lembrar que estou viva. Que sou de carne, mesmo ela quase estando no osso. Para me lembrar que quando se arranha arde, que quando machuca arranca, que quando derrubam, eu caio, mesmo achando que não. Falo e grito porque chorar as vezes não basta. Para me lembrar da dor quando me esqueço. Para estar consciente que ainda existo, apesar de. Do nada, do tudo, e de todas as coisas que deixam de ser importantes quando o tempo passa, mesmo quando a carne ainda parece sangrar.

Falar parece não mudar nada, mas me lembra de tudo. Porque falar, às vezes não me leva a causa, mas surte efeito. Me lembra que tenho raiva, que tenho rancor, que tenho desejo e que tenho amor.

Falo porque quando me perco no silêncio, descubro que às vezes ele é a morte de coisa alguma, ou do todo que me resta. Nunca se sabe.
Falar me leva ao chão enquanto me encaminha para o perdão.

Falo porque palavras me deixam viva, mesmo quando acho que estou prestes a partir.

(Autora: @daniquartezani )

Nenhum comentário:

Postar um comentário