terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Neste mar de sargaço de fantasia e de fraude, como posso eu ou algum outro nadar sem obstáculos? Como posso aprender a ver através. e não ver com os olhos? Como posso tirar o meu colorido traje, lavar a maquiagem, abaixar as cortinas, apagar as luzes do estúdio, silenciar os efeitos sonoros e pôr as câmeras para dormir? Como posso ver mobília nos cenários do estúdio, silêncio numa discoteca, amor num strip tease? Ler a verdade num sinal de trânsito, captá-la numa tela, segui-la nas asas da música ambiente? Vê-la em cores vivas com as notícias, ouvi-la ao som das rodovias? Não no vento que rasga as montanhas e despedaça as rochas; não no subsequente terremoto, nem no incêndio após o terremoto. Mas em sua voz serena e tênue. Não no guinchar dos pneus, tampouco, nem no ranger dos freios; não no ronco dos jatos, nem no silvo das sirenes, nem no gemer dos trombones, nem no cantar das vozes do povo. De novo aquela voz serena e tênue - se fosse possível captá-la.