terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O trapo e o perdão



Me incluo no grupinho das pessoas que se importam muito com a justiça própria, então você já imagina como o perdão e as mágoas são difíceis para mim. Mas sabe, posso citar exemplos em que consegui perdoar de fato sim, consegui deixar mágoas para trás. Foi um processo longo e demorado, mas essas experiências me deram esperança para estar aqui escrevendo sobre isso. E você? Já se sentiu injustiçado? Desrespeitado? Já te magoaram tão profundamente que parecia que você nunca iria perdoar o que te fizeram? E depois de toda essa auto-análise e conclusão de que deram mancada com você, você de fato, perdoou?

Primeiramente, vamos pensar um pouco a respeito do perdão em si.
Perdoar é reconhecer que fomos maltratados, usados, lesados, desrespeitados ou injustiçados por alguém. Para perdoar, precisamos enfrentar sim, essa situação de que fizeram algo de ruim pra gente. Em segundo lugar, existe um fluxo, você perdoa porque já foi perdoado e se você não perdoa, você bloqueia esse fluxo que é o perdão. Portanto algumas pessoas que não receberam perdão ou que nunca se sentiram perdoadas dificilmente vão passar isso adiante, porque perdoar é passar aos outros, o que você tem recebido. Em terceiro lugar, perdoar não é o mesmo que esquecer. Perdoar é, muitas vezes, relembrar e infelizmente talvez não haja reconciliação entre as partes, porque algumas coisas não voltam a ser como eram antes, ou demoram. E além disso, perdão e restituição da confiança são coisas diferentes. Em quarto lugar, o gesto de perdão exige esforço e abdicação de orgulho ou razão, e não significa necessariamente esquecer a ofensa, mas deixar de levá-la em consideração.

Repare que na maioria das vezes, nós não nos magoamos com instituições, e sim com pessoas. Pessoas magoadas, magoam outras pessoas...E ter dificuldade de falar o nome de tal pessoa é um sinal de que não se perdoou ainda. Sempre nos referimos a esse alguém como “meu ex” “minha amiga” “meu pai” e nunca com o nome de cada pessoa, porque às vezes dizer tal nome dói demais e provoca algo dentro da gente. Se você não consegue pensar nessa pessoa sem se lembrar do que ela fez a você, é sinal de que não perdoou de verdade.

Imagine um mar de mágoas aonde você vai se afundando cada vez mais... Perdoar é vir à superfície da água e respirar.  Eu penso que as mágoas nos sufocam da mesma maneira. É algo muito difícil de carregar conosco. É um peso.
Perdoar não é livrar alguém das consequências, pois toda ação provoca uma reação.
O perdão é um processo, demora algum tempo, não é algo instantâneo, se você diz que perdoa no mesmo instante em que algo acontece talvez você não esteja perdoando realmente. O perdão é para os fortes!

Quinto lugar, seu perdão não pode depender dos outros, não se pode ficar esperando pelos outros entenderem o que houve, compreenderem o quanto te magoaram e te procurarem pedindo perdão. É necessário que se perdoe independente do reconhecimento da outra parte, é necessário que se promova o perdão mesmo que você esteja com a razão. E o não perdoar alguém, faz com que esse alguém controle sua alegria. Você pode pensar coisas do tipo: “Eu nunca vou perdoá-lo pelo que ele me fez, você não tem ideia do quanto aquela pessoa me magoou”. E mais uma vez eu digo, o ressentimento, as mágoas... são coisas difíceis de se carregar e quando perdoamos alguém, estamos libertando a nós mesmos.

Por outro lado temos a vingança. E já dizia Seu Madruga: "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena." Algumas pessoas nos magoam tanto que queremos que elas paguem pelo que nos causaram, queremos que elas sofram assim como sofremos. A vingança nos corrompe e nos deixa cegos, perdemos a consciência da nossa moral. Fazemos coisas que juramos jamais sermos capazes de fazer, coisas que consideramos imorais e nos enganamos pensando que a nossa vingança se auto justifica, afinal “você não sabe o que fulano fez pra mim” blá blá blá... A vingança é sobre “o que eles fizeram” e nunca sobre “o sangue em nossas mãos”. A vingança é o mito de que podemos fazer coisas certas com atitudes más.
Sabe, a vingança infla nosso ego e digo mais, ela é vazia em si. Pessoas que se atentam muito à justiça própria estão sempre pensando em alguma forma para se vingar, para fazer justiça com as próprias mãos, para serem a “mão esquerda de Deus”. Mas você e eu que estamos nessa, estamos muito errados! A vingança é como se brincássemos de Deus e quiséssemos deixar tudo de acordo com a nossa própria vontade ou com o que julgamos ser justo, correto. Aí eu me pergunto: Quem sou eu para ter o controle de tudo isso? De todas essas coisas? Pois é, não sou nada nem ninguém. 
Existe um versículo que diz:  “... as nossas justiças são como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha...(Isaías 64:6)
Se a nossa justiça própria é como um trapo, então ela tem pouco valor, ou nada significativo. E embora eu seja daquelas que se importam com a justiça própria e blá blá blá, esse versículo faz muito sentido pra mim, porque sei que a justiça de Deus é maior e melhor que a minha. Ele cuida dos mínimos detalhes! Ele há de cuidar de todas as coisas!
Observe que, deixar que a justiça de Deus seja feita e não a minha, não me torna necessariamente alguém negligente ou omissa diante de circunstâncias injustas, significa colocar em prática o laissez faire (deixe fazer, deixe ir, deixe passar, o mundo vai por si mesmo) e assumir que nós não temos e nem precisamos ter o controle de tudo. Há sempre algo a ser feito, mas há muitas coisas que não cabe a nós.

Por fim, se você ainda deseja que aqueles que te magoaram, estejam mortos, saiba que você ainda não perdoou. E, se eu não perdoo, eu estou preso no passado e não estou totalmente aqui e agora, para viver a beleza do momento presente. Se eu não perdoo, eu é que não estou livre. Que você e eu possamos perdoar. Perdoar o próximo e a nós mesmos. Perdoar.


 “Incrível como o perdão liberta as pessoas, liberta o ofendido e aquele que recebeu perdão. Tudo flui depois que se perdoa.”


"E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia."
Salmos 37:6


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Acho que eu existo dentro das pessoas e elas querem cultivar
esse jeito solto que se agarra e vai, esse olhar disposto a se atirar.
Acho que eu preciso do dentro das pessoas e que elas querem se doar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Palavra

E basta uma só palavra pra eu me acalmar.
Basta apenas a sua voz pra me lembrar,
que quando a tempestade passar e o vento se acalmar,
tudo volta ao seu lugar.

Meu coração se volta ao seu,
meus olhos elevo ao céu.
Me lembro do quanto é fiel
em trazer de volta o que é meu.

É o meu porto, cais e mar
onde eu quero me aprofundar,
pra eu depender do seu amor
e não haver mais dor.

E é lá que eu quero estar,
porque você é o melhor lugar.

E basta uma só palavra e serei salva
e basta uma só palavra e serei sua
e basta uma só palavra e tudo continua...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Sumiço

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico muda quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência."
Martha Madeiros

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…

Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

(Florbela Espanca)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sufoco

Eu que sou geminiana e falo pelos cotovelos, sempre defendi a ideia de que tudo se resolve conversando, que o diálogo pode resolver todos, ou quase todos os conflitos. Sabe, acreditar que se conversar direitinho as pessoas acabam se entendendo? Pois então, não tenho encontrado êxito. É incrível como algumas pessoas tem uma predisposição para se fechar, para serem omissas, superficiais. Entendo que algumas coisas não precisam ser ditas, às vezes. Mas também sei que ninguém tem bola de cristal, que há coisas para serem externalizadas. Mas é que o orgulho fala mais alto, né? Preferem deixar tudo pra lá, tudo pra depois e "constroem" muros, ao invés de pontes. E as mágoas vão aumentando e os mal entendidos vão crescendo, simplesmente porque algo não foi dito, porque não houve diálogo. Parece que ter "aquela" conversa se torna até um ato de valentia, ousadia... Algo que é tão simples e tendemos a complicar tudo (e eu me incluo nisso também, porque o errado não é só o outro). O pior é quando você fala e é mal interpretado por pura falta de esforço do outro em te compreender. Enfim, desculpe-me pelo desabafo, eu precisava. É isso, algumas pessoas não dialogam, mas eu sempre vou encarar as conversas, sempre vou me atentar ao que o outro tem a me dizer e que "os meus" se atentem ao que eu tenho a dizer. Porque às vezes, tudo o que a gente precisa é da palavra.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O riso da dor



"Feliz de quem sabe chorar, o choro é o riso da dor.
Chorar com quem chora, refaz toda história, transforma a tristeza em flor."
(João Alexandre)

Sabe quando bate a deprê e você sente que mergulhou bem fundo de forma com que ela fizesse morada?
Sabe quando seu cérebro dá um nó de tanta confusão, tantos sentimentos misturados, revirados...?
Sabe aquela dor incessante, aquele desespero?
Sabe aquela impressão de que nem toda a água de todos os oceanos juntos representariam o seu pranto?
E que mesmo que você chorasse até 2067, ainda assim não teria chorado o suficiente.
Então... é isso. É tudo isso. É esse o sentimento.

Em João 11:35 diz que Jesus chorou.
Isso mesmo, Jesus chorou. Incrível né? O menor versículo da bíblia diz isso, que Ele chorou. Então eu me pergunto como que um versículo tão pequeno e tão simples pode significar essa imensidão toda?
Em algum momento Jesus sentiu a necessidade de externalizar seus sentimentos...
Jesus que é Deus, chorou?
Então tudo bem se eu chorar.
Me deixa chorar também.

O que há comigo? Há tudo! Me pesam como chagas os amores.
Sou intensa, exagerada, dramática, catastrófica.
Sou chorona mesmo, sou assim.

Mas também sei me virar, dar a volta por cima. Voltar à superfície...
Sou indecisa, (um pouco) bipolar, porém dialética.
E por ter estado do outro lado, conhecer os dois lados, sei que as tempestades passam.
Há um resquício de esperança poque eu me lembro de ter tido dias melhores.
Logo, imagino que outros melhores também virão, que um dia terá só calmaria ao invés de tempestade.Que Jesus, que acalmou a tempestade quando estava no barco com seus discípulos também vai acalmar a tempestade dentro de mim.
A tempestade que eu sou.

No mais, respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada, como o Caetano.
E sigo em frente, cabeça erguida. Respiro fundo, fecho os olhos.
De pé permaneço. Abro ao cosmo as janelas do meu coração, entrego, confio, aceito e agradeço.

Porque se o choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã, a minha noite tem sido longa mas eu to aqui esperando amanhecer, confiante certamente.

"Não choro mais
Agora sorrio
Só rio
Sou rio
Mergulha em mim"

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto
Fecha o meu livro se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue.
Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias.
Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

-Eu faço versos como quem morre.

(Manuel Bandeira)

terça-feira, 21 de julho de 2015

Dos dramas da vida...

"Eu queria manter cada corte em carne viva,
a minha dor em eterna exposição
e sair nos jornais e na televisão
só pra te enlouquecer
e você me pedir perdão."

(50 receitas - Leoni)

https://www.youtube.com/watch?v=YboGD3LaZv8

sábado, 24 de janeiro de 2015

O amor e o café


O amor é café
Que eu erro a medida
O amor é café
Que mesmo frio
É-me quente bebida
O amor é café
Que como o de mãe
Jamais será, não!
O amor é café
Que dá disritmia
No manso coração
O amor é café
Que eu bebo
Sem moderação

Faço amor
e bebo café
Faço café
e bebo-te,

Amor.

(Autor Desconhecido)

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

"O meu mundo não é como o dos outros. Quero demais, exijo demais; há em mim uma sede do infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê."

- Florbela Espanca

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Que se chova.


O amor que choveu
(Antonio Prata)


Era uma vez um menino que amava demais. Amava tanto, mas tanto, que o amor nem cabia dentro dele. Saía pelos olhos brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremendo, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía : o nó ali é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado). O menino sabia que o único jeito de resolver a questão era dando amor à menina que amava. Mas como saber o que ela achava dele? Na classe, tinha mais de 15 meninos. Na escola, 300. No mundo, vai saber, uns 2 bilhões? Como é que ia acontecer de a menina se apaixonar justo por ele, que tinha se apaixonado por ela? O menino tentou trancar o amor numa mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia do prédio, do quarteirão e logo o menino saiu andando pela cidade escura –só ele brilhando nas ruas, deixando pegadas de Star Fix por onde pisava.
O que é que eu faço? – perguntou ao prefeito, ao amigo, ao doutor e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. Fala pra ela! – diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ele não tinha coragem. E se ela não o amasse? E se não aceitasse todo o amor que ele tinha pra dar? Ele ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2978. Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele – se tem 8 braços para os abraços, por que não 4 corações para as suas paixões? Ele é que não dava conta, era só um menino, com apenas duas mãos e o maior sentimento do mundo. Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que o menino mão sabia era que o seu amor era maior do que o mar. E o amor do menino fez o oceano evaporar. Ele chorou, chorou e chorou pela morte do mar e de seu grande amor.
Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor do menino que chovia do Saara a Belém, de Meca a Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando a menina que o menino amava. E assim que a água tocou sua língua, ela saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de um amor tão grande, mas tão grande, que já nem cabia dentro dela.

sábado, 3 de janeiro de 2015

5 anos


Hoje o meu blog completa 5 anos.
5 anos de poesias, críticas, desabafos, reflexões...
Sempre brincando com as palavras e externalizando.
Obrigada a todos que acompanham o blog!
Escrevo pra vocês!

"... é tudo poesia, alimento de alma."