sábado, 16 de junho de 2012

Saudade



"Eu aprendi sem a gramática que saudade não tem tradução." Assim diz a música...
e essa música não mente! Existe uma certa polêmica em torno da palavra Saudade.
De acordo com uma lista feita a partir da opinião de mais de
1000 tradutores profissionais, a palavra saudade, em português,
é a 7ª palavra mais difícil de traduzir.
Provavelmente existem diversas outras traduções,
mas nenhuma delas têm a capacidade de
substituir a palavra saudade com a mesma carga semântica.
Posto isso, realmente não há um cognato perfeito. Há algumas traduções
que chegam perto do significado da palavra, como em inglês, miss
(sentir falta) ou ainda homesick (sentir-se triste por estar longe
de casa e da família). Mas saudade que é saudade mesmo, é só nossa!
Aqui no Brasil, o dia da saudade é comemorado oficialmente em 30 de janeiro.
"Saudade", só conhecida em galego e português, descreve a mistura dos
sentimentos de perda, falta, distância e amor.
A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão), na forma arcaica
de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar".
Diz a lenda que foi cunhada na época dos Descobrimentos
e no Brasil colônia esteve muito presente para definir a solidão
dos portugueses numa terra estranha, longe de entes queridos.
Define, pois, a melancolia causada pela lembrança; a mágoa que se
sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações.
Uma visão mais especifista aponta que o termo saudade advém de
solitude e saudar, onde quem sofre é o que fica à esperar o retorno
de quem partiu, e não o indivíduo que se foi, o qual nutriria nostalgia.
A gênese do vocábulo está diretamente ligada à tradição marítima lusitana.
O que me faz lembrar (imediatamente) do Mar Português de Fernando Pessoa:

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem querer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Talvez você tenha saudade de alguma pessoa que se foi,
de algum lugar bacana, de alguma época que não volta mais,
de um cheiro, de uma amizade que se desfez. Talvez você tenha saudade
de você mesmo. De quem você era, do que você costumava fazer.
Eu sinto saudade de muitas coisas. Talvez de tudo o que eu citei
aqui. E sei que daqui alguns anos, vou me lembrar do "hoje" e sentir saudade também.
A saudade, para mim, está ligada a algum tipo de sofrimento, muitas vezes. Está ligada
a laços. Mesmo eu sempre defendendo o desapego, a independência, a liberdade...
e coisa e tal, já andei muito em círculos, sempre tentei repetir o que foi bom e deixou lembranças.
Atitude nada saudável, que só hoje eu reconheço o quanto faz mal. Só agora eu me sinto livre
de coisas passadas, me sinto mais viva, me sinto "aqui e agora".
E o que me anima é lembrar da personalidade de Jesus.
No evento central da fé cristã, quando Ele ressucitou,
a primeira pessoa que ele viu foi Maria Madalena.
Ela que, junto com outras mulheres,viajava com Ele e custeava suas viagens,
o apoiava... e que teve sua história mudada por esse Jesus, que ela tanto amava
e que tinha partido. Quando ela o procura em seu túmulo, e o encontra,
Ele está vivo, está de volta. E vai abraçá-lo e Ele diz: "Maria não se prenda a mim".
Eu me pergunto como que Jesus, a divina encarnação de amor e compaixão fala uma coisa
dessas? Não é estranho? Não é diferente?
É que ele não tinha voltado para fazer as coisas como elas eram antes. E ele ainda dá um papel a
Maria Madalena pra que ela seguisse sua vida e se desligasse do passado.
Isso soa estranho, mas... talvez...
Eu acho admirável essa liberdade, independência ou sei-la-o-quê que Jesus tinha e o modo como
ele lidava com as coisas. E eu penso que as pessoas podiam desenvolver melhor essa independência
e desapego também. Enfim, quando acreditamos que as coisas eram melhores antes.
Quando nos prendemos ao passado. Quando não estamos presentes.
Quando ainda estamos nos prendendo a como as coisas eram, nossos
braços não estão livres para abraçar o "hoje".
Que nós possamos aceitar o passado pelo que ele é e guardar apenas as coisas boas.


Na foto: a obra "Saudade" de Almeida Júnior.