sexta-feira, 4 de novembro de 2022



Eu te amo como um sentimento desperdiçado, feito água que cai pelo ralo, que se perde e nunca mais se vê.

Eu te amo como um leite derramado, no chão ou no fogo depois de ferver. As águas passadas que aqui habitam, nunca se secam e insistem em verter. 

Me perco em mim pra me encontrar em você, mas perco você sem nunca ter me ganhado pra conseguir perder.



domingo, 14 de agosto de 2022


"Aprendi a mergulhar no teu mar.
Nunca amei alguém como amo você.
Nunca admirei alguém como admiro você.
É que o amor, é algo diferente, mas que nos dá vida.
Foi por amor que Jesus veio e é por amor que somos salvos.
E eu mergulhei profundamente no seu rio e ainda assim não me afoguei.
Aprendi a nadar e a cada vez mais te amar...
Vi seus erros, seus pedaços de uma madeira molhada, mergulhada no seu mar.
E apenas tive vontade de consertar.
E tive mais vontade de ficar.
Encontrei alguns tubarões dos quais quase me atacaram mas ainda assim continuei lá...
Aprendi a acalmá-los e amá-los.
Pois o seu defeito, pode ser o mesmo de muitos e os mesmos dos meus...
Daquele rio não queria mais sair.
Queria poder ficar lá, mergulhar e mergulhar...
Para aos poucos te encantar, te mostrar as coisas que pode estar perdendo...
Tudo pra te ver bem
Mas
Nem tudo é como queremos
E...
Talvez seja melhor apenas aceitar, que um dia eu mergulhei fundo
 e não me arrependi de te amar..."
(Isadora Melo)

 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Palavra

palavra
pa·la·vra
sf
1 LING Unidade mínima com som e significado que, sozinha, pode constituir um enunciado; vocábulo. 2 Unidade da língua composta de um ou mais fonemas que, em língua escrita, se transcreve entre dois espaços em branco. 3 GRAM Unidade que pertence a uma das grandes classes gramaticais, como substantivo, verbo, adjetivo, preposição etc. 4 Manifestação verbal ou escrita. (Dicionário Michaelis)
Às vezes tudo o que a gente precisa, é de uma palavra.
Frequentemente dependemos de um sim ou de um não. Muitas vezes precisamos de uma palavra que nos dê direção, ou de uma palavra que nos ajude a tomar decisões. Esperamos uma resposta, um resultado, uma ligação, esperamos por uma determinada palavra que só nós mesmos sabemos exatamente qual é. Outras vezes carecemos de uma palavra de ânimo ou de consolo e quase sempre precisamos de um conselho. Uma simples palavra pode ser um alimento para a nossa alma. E que diferença pode fazer uma palavra amiga, não? Gosto de uma música do Legião Urbana que diz"Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?" E isso sempre me fez refletir: Qual será a palavra certa? E quem terá a palavra certa para mim?
Eu acredito que a palavra em si, tem poder e importância muito grandes. A palavra certa na hora certa pode mudar tudo, assim como a palavra desnecessária ou indevida pode ferir, desagradar. É incrível pensar que a solução de todo um problema pode depender de uma simples palavra, escrita ou verbalizada. Pois palavras libertam, palavras matam, palavras curam e também podem criar.
Voltemos para Gênesis quando Deus disse: "fiat lux!" que significa "haja luz!" e então... houve luz. No caso, a voz de Deus teve um poder criativo, assim como nossas próprias palavras também têm. Nossas palavras têm o poder de construir ou de destruir. Palavras são sementes, palavras criam e criam para o bem ou para o mal. Algumas palavras podem gerar afeto, expressar carinho, porém algumas palavras acabam gerando discórdia ou criando conflitos. No livro de Tiago, o autor faz algumas metáforas para exemplificar o poder e a função da palavra verbalizada. Ele diz que até o cavalo é domado, com um freio em sua boca, mas a língua é indomável e não nos obedece. Os navios, mesmo sendo grandes e batidos por ventos fortes, são dirigidos e controlados por um pequeno leme, assim como a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas e conduz, muitas vezes, o corpo todo à ruína. Ela é como o fogo, que pode causa um estrago enorme, assim como uma simples fagulha pouco a pouco é capaz de incendiar uma floresta inteira. A língua é um mal contido, carregado de veneno, pois há palavras de vida e palavras de morte, e só aquele que é sábio é capaz de comer dos seus frutos. 
Em contrapartida, como uma antítese, ou um antídoto para tal veneno, temos o silêncio, onde a palavra sai de cena. Segundo o pastor e psicanalista Villy Fomin, existe um silêncio que constrange e que incomoda. O silêncio pode ser calmaria, mas também pode ser omissão ou até mesmo confronto, porque existem posturas silenciosas mais danosas do que gritos, pois o silêncio tem a capacidade de dizer coisas que as nossas muitas vozes e palavras não são capazes. E muitas vezes, o não agir, não fazer nada, pode ser nossa melhor ação. Ou seja, o ato de se calar também pode comunicar algo. Às vezes o silêncio traz verdades terríveis, inconvenientes, porque ele não é dado a amenidades. Ele grita através de um telefone mudo, uma mensagem lida e não respondida, uma conversa monossilábica. São momentos silenciosos que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas, apatia, desespero. Muitas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão e pior do que uma discussão insistente é um silêncio que fala. Simples, rápido, forte. 
O perdão não vem em um beijo, mas sim depois de longos momentos de reflexão. Introspecção cura, mas também pode ser a ante-sala do fim. Palavras articulam argumentos, expõem queixas, tentam ser explícitas, mas nem sempre são justas ou compreendidas. Há um grande abismo entre o que eu falo e o que o outro entende. Nessas horas o silêncio pondera, isola, intimida. O silêncio perturba justamente porque ele fala e fala bem alto.

Por falar em silêncio, gosto de lembrar que o nome de Deus é impronunciável em algumas culturas judaicas ortodoxas. Pois alguns rabinos acreditam que esse nome: Yahweh ou Javé é algo muito sagrado, muito santo e misterioso e que não se deve ser falado em qualquer ocasião, ou como diz o mandamento: não pode ser falado em vão. Essa palavra no hebraico possui apenas quatro letras, Y H V H (Iod, He, Vav, Heh) e que a pronúncia dessas letras juntas se parecem muito com o som da própria respiração, por isso a consideram impronunciável. Quer dizer... Será que o nome de Deus é o som da nossa respiração? Na verdade eu não sei, o que eu sei é que a palavra tem um peso muito grande e é necessário ter muita sabedoria para conduzir nossas próprias palavras para o bem, para algo bom.

Eu que falo pelos cotovelos e falo muito por impulso, acabo "pecando" nessa questão. Já magoei pessoas queridas, já afastei pessoas importantes... tudo por não saber lidar com meus pensamentos e palavras. Conheço bem o amargo remorso e a culpa de uma palavra falada na hora errada, ou da maneira errada, então controlar a língua é um grande desafio para mim. Sempre que falho nisso, me lembro das sábias palavras da minha tia no velório da minha avó: "quem fala menos, erra menos".

Pra concluir, eu espero que nós possamos refletir sobre nossas próprias palavras e buscar sempre falar com amor, mesmo que sejam verdades difíceis de se ouvir, que sejam ditas com amor. E por fim, que nós saibamos detectar sempre qual a palavra certa que nós buscamos e quem a detêm. 


Palavras ao vento - Cassia Eller

Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento

Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento

https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/palavra/
https://www.significados.com.br/fiat-lux/
https://www.letras.mus.br/cassia-eller/44927/

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

amahrte

Eu escrevo porque preciso e é importante. Escrevo porque você está muito presente, mesmo estando distante. Escrevo porque o que faz sentir, faz sentido. Mesmo que eu não entenda o porquê, a razão e o motivo. Escrevo porque não posso falar. Escrevo aquilo que você não quer escutar, mas que aqui não se pode calar. E porque o seu silêncio não para de gritar. Palavras podem ser inúteis, se eu não souber verbalizar. Pois há palavra que desagrada, agride, mas há palavra que às vezes pode curar. É como um jogo de paciência onde eu não consigo ganhar. Eu perco pra você, por não ter sapiência e por não saber jogar. Você é água turva, não me deixa enxergar. Quanto mais eu abro os olhos, mais difícil mergulhar. É como um emaranhado, impossível de desenrolar. Seus olhos marejados são ponto final, onde eu queria descansar e nesse cais, você é o caos que eu posso pacificar. Foge de dicionários e de diálogos vários, foge de todo e qualquer clichê o que eu sinto por você: eu te amo, sem você merecer. Mas isso não é importante, porque o meu sentimento por si só já é o bastante. Eu te quero, mas não preciso de você. São muitos deslizes, falhas e desencontros, mas depois de tudo isso e depois de tudo aquilo eu ainda sigo querendo que você fale comigo. É uma conta que não quer bater, não quer fechar. Parece injusto, porque dessa conta, eu deveria te dar o troco, mas decidi não revidar. Eu sigo procurando respostas que me possam esclarecer, mas quanto mais eu penso, mais eu sinto que é esse o motivo, pra isso tudo, de fato, verdadeiro ser.

camilla caju

sábado, 24 de abril de 2021

“Talvez eu me case. Talvez não. Talvez eu viaje pelo mundo. Talvez viaje apenas pela mente. Talvez os meus planos para o futuro funcionem. Talvez eu quebre a cara. Quem é que sabe? É possível que eu morra velhinha, com três netos e um bisneto. E é possível que minha luz se apague no meio de uma tarde quente, no trânsito, no mar ou no asfalto, aos 23. Tudo pode acontecer. E quem é que sabe? O vento do mundo pode me carregar para um lugar distante do que conheço, assim como uma brisa pode me trazer de volta. O mesmo sopro que pode me acender num instante, pode me apagar no segundo seguinte. E, no entanto, eu vivo. Talvez eu nunca me torne a pessoa que quero ser. Talvez eu vire alguém ainda melhor. Ou pior, nunca se sabe. É certo que escolhemos o nosso rumo, mas quem sabe as opções que nos serão dadas? Talvez eu seja e talvez eu morra tentando. A vida é um mar. Ou um marasmo. Talvez eu me afogue, talvez conquiste um novo continente. Quem é que sabe?”
—  rio-doce

quarta-feira, 10 de março de 2021

Solteiro

Há uma grande verdade hoje nas relações que explica porque está tão difícil "dar certo" - NÃO EXISTE NINGUÉM que esteja realmente SOLTEIRO e disponível de alma. Esta é a verdade simples, direta e assustadora. (...) Você pode se perguntar -"Ué, mas eu tô sem ninguém"!!!!

- Mas está "casada" com aquele seu ex que até hoje você não rompeu os laços de mágoa, abandono, paixão e ilusão.

- Mas está "casada" com seu pai ou sua mãe, exercendo a função de um dos dois para suprir a ausência de um deles na família e não enxerga isso - mas quem encosta em você sente na energia e pede pra sair. 

- Mas está casada com alguma crença do tipo "eu não dou certo", "homens não prestam", "mulheres só querem dinheiro", e estas suas crenças ocupam o lugar de alguém que poderia estar ao teu lado. Você no fundo se acostumou a isso e tem medo de ousar ser feliz.

Por alguns destes motivos, quando você se relaciona, namora, noiva e casa... As coisas parecem tão difíceis, embora simples. Na maioria das vezes, energeticamente você vive um triângulo amoroso ou quarteto amoroso com a pessoa de carne e osso, e a "outra" citada acima. Ou você rompe de vez e coloca um ponto final nos seus "casos mal resolvidos ou nem entendidos", ou os zumbis que deixou vão ser vampiros ávidos do sangue da tua felicidade real. E você vai dizer que “não dou certo com ninguém”.

Por Jordan Campos

quarta-feira, 3 de março de 2021

A DOR QUE DÓI MAIS


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas. 
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros , A dor que dói mais in Trem-Bala. L&PM Editores. 1999.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A mulher de trinta anos


Existe uma expressão muito famosa oriunda da literatura que chama algumas mulheres de "balzaquianas". Mas o que vem a ser isso?
O termo Balzaquiano entrou para o dicionário português não só como "algo relativo à obra de Balzac", mas também como um adjetivo para qualificar pessoas com mais de trinta anos, especialmente na forma feminina.

Essa expressão vem de um livro, La Femme de trente ans, um romance do autor francês Honoré de Balzac, escrito entre 1829 e 1842. O livro conta a história de Julie, a infeliz heroína, uma mulher burguesa e deprimida por causa de seus problemas sentimentais e seu casamento fracassado. O romance traz uma linguagem difícil e profunda, mas é também uma obra revolucionária e escândalosa para a sociedade parisiense do início do século XIX.

A protagonista que viveu um casamento distante e infeliz, levava a vida de forma melancólica. Então ela acaba buscando sentido em várias coisas e pessoas e não o encontra nem mesmo na maternidade. 
Mas aos 30 anos, essa mulher se torna madura, mais confiante. Julie está no auge de sua sexualidade e mais segura de si. E logo ela começa a se apaixonar de verdade e sua vida ganha novas cores. 
O livro defende a ideia de que a mulher mais velha ou mais experiente é muito mais interessante do que uma mulher mais nova.

“As moças costumam criar nobres, encantadoras imagens, figuras totalmente ideais, e forjam ideias quiméricas sobre os homens, sobre os sentimentos, sobre o mundo; depois atribuem inocentemente a um caráter as perfeições com que sonharam e a ele se entregam; amam no homem de sua escolha essa criatura imaginária; porém, mais tarde, quando já não há tempo de se livrar da desgraça, a aparência enganadora que embelezaram, o primeiro ídolo enfim transforma-se num esqueleto odioso.” (trecho do livro)

No dia 30 de maio desse ano que se passou, eu completei 30 anos. Eu me tornei uma mulher balzaquiana e cheguei a algumas conclusões. 
A mulher balzaquiana aprendeu muito com seus próprios erros. De tropeço em tropeço, hoje ela se mantém em pé, de cabeça erguida e não é qualquer coisa que a consegue derrubar. Ela sabe diferenciar solitude de solidão, assim como ela sabe diferenciar quem está ao seu lado de quem está apenas com ela. Ao seu lado existem centenas, quem está com ela são poucos, quem está por ela, menos ainda.

Ela tem amigos dentro de si, o tempo, a geografia os distanciou. Eles não estão ao seu lado, mas estão com ela, por ela. Eles sempre serão seus melhores amigos. 
Mas a verdade é que ela é sua própria melhor amiga! Pois sabe apreciar sua própria companhia. Ela fala sozinha, porque não há melhor companhia para se dialogar, senão a sua. Ela se basta por si mesma, porque aprendeu com muita dificuldade a olhar para dentro de si e a ter amor próprio. Afinal, tudo que ela realmente precisa é dela mesma e de Deus.

Ela aprendeu o valor da palavra, da que tem que ser dita do jeito certo e da que não precisa ser falada. Ela prefere o silêncio. Ele é capaz de dizer coisas importantes que seus ruídos jamais poderiam dizer pois nossas muitas vozes são falhas, dúbias, muitas vezes arrogantes. O silêncio acerta. 

A mulher balzaquiana se conhece bem, é madura, experiente e por conta disso, mais racional. Ela não aceita menos do que merece. Nem tudo a agrada, nem tudo a engana. Porque sua vivência dá a ela a sensação de que "já viu esse filme" e aí, meu amigo, ela tira de letra. Ela é forte e passou por muitas coisas, mas aprendeu a amar sua própria história pois foi através dela que ela pôde se reconstruir um milhão de vezes e hoje tem seu caráter forjado.

A mulher de trinta anos, assim como Jesus que começou sua missão no mundo com essa mesma idade, está pronta pra sua própria missão de vida, da vida que ela escolheu. 
Ela é muito mais do que os olhos podem ver, ela é muito mais do que um amontoado de palavras a poderiam descrever. Ela é e pronto. A mulher balzaquiana, que eu sou, não se resumo a um texto. Mas essas palavras trazem uma partícula da imensidão do universo que é ser mulher. Porque essa mulher não se trata apenas de você e eu, ela é múltipla, ela é infinita. Ela é. 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Non ducor duco




Sempre viajo para São Paulo. Tenho muitos parentes paulistanos e também tive a experiência de morar lá durante alguns meses. De todas as paisagens e informações visuais que a cidade me oferecia, uma delas sempre me chamou a atenção: Non ducor duco, do latim, significa "não sou conduzido, conduzo." Essa expressão presente nos ônibus, junto ao brasão da bandeira da cidade, traduz muito bem a vida paulistana, sempre em constante movimento, evolução, seu espírito de liderança, sua correria, entre outras coisas. 

Então, a partir dessa simbologia paulistana, comecei a pensar sobre conduzir ou ser conduzido. Me questionei se eu estava conduzindo, guiando a minha própria história ou sendo conduzida. Passei a me perguntar se eu estava sendo protagonista ou coadjuvante da minha vida e dos meus sonhos.

Nós aprendemos observando exemplos, seguimos protocolos, obedecemos regras, nos vestimos conforme as tendências, consumimos coisas parecidas e por fim, reproduzimos o mesmo. Afinal, é muito mais fácil seguir hábitos e ações preestabelecidas.

Como já dizia Zeca Pagodinho: "E deixa a vida me levar (vida leva eu!)" Sabe quando você vai levando as coisas, simplesmente? Só assinando embaixo e aceitando tudo que lhe aparece sem questionar? Isso acontece porque muitas vezes nós ligamos o modo automático da vida e vamos apenas executando as coisas, sem escolher ou reclamar, às vezes por costume, muitas vezes por pura preguiça mesmo. 

Mas você já olhou para dentro de si e examinou cada questão, cada característica peculiar que você tem? Você já se questionou se suas escolhas são baseadas no indivíduo que você é ou no coletivo? Existe algo que você gostaria de fazer ou usar que você acaba deixando de lado por pensar num consenso, numa opinião coletiva?

Eu penso que se não tomarmos os "lemes" de nossas vidas, podemos ser levados para várias direções ou para direção nenhuma. Se não tomarmos iniciativas para conduzirmos nossos sonhos e objetivos, vamos viver um roteiro escrito previamente, vamos levando as coisas de qualquer jeito, sem um propósito.

É fácil? Nãããão! É extremamente difícil, mas vale a pena. Sermos protagonistas de nossas vidas requer muito empenho, pois é um penoso trabalho e algumas pessoas simplesmente não conseguem. Talvez nesse processo você tenha que nadar contra a maré, contrariar expectativas,  desagradar pessoas, driblar protocolos e/ou desprezar regras. E isso tudo é muito difícil, exige coragem, certeza, opinião, personalidade e irreverência. 

Alguns anos atrás, pensando nisso tudo, eu percebi que estava sendo apenas coadjuvante da minha história e que eu tinha que tomar o leme da minha vida. Refleti muito, tomei decisões, e entao o universo conspirou ao meu favor e tudo foi se encaminhando, todas as coisas foram cooperando para que eu conseguisse encontrar o meu eixo e viver a vida que eu sonhava.
Nesse ano de 2020 eu precisei retomar esse exercício mental e tomar decisões e atitudes que se desdobrariam em mudanças e novidades. Mais uma vez um processo longo e doloroso, mas que valeu muito a pena!

Sendo assim, não posso e nem devo julgar, mas trago à tona essa questão para vocês a fim de propor reflexões. 

Se você vive dessa forma, tudo bem. Digamos que viver assim não é errado, e pode funcionar para muitas pessoas, mas te garanto que é muito melhor direcionar sua vida para o que lhe agrada mais, protagonizar seu caminho e suas escolhas a fim de alcançar suas metas, sonhos etc. É hora de ser quem você sempre sonhou. Abrir novas trilhas, novos caminhos, ao invés de apenas seguir os trilhos. Até porque quem anda nos trilhos é trem.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

 Sobre o Setembro Amarelo, é bom lembrar desse texto do Rubem Alves: 


"Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem  a dizer. (...) Para ouvir não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio de dentro. Ausência de pensamento. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia."