terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A mulher de trinta anos


Existe uma expressão muito famosa oriunda da literatura que chama algumas mulheres de "balzaquianas". Mas o que vem a ser isso?
O termo Balzaquiano entrou para o dicionário português não só como "algo relativo à obra de Balzac", mas também como um adjetivo para qualificar pessoas com mais de trinta anos, especialmente na forma feminina.

Essa expressão vem de um livro, La Femme de trente ans, um romance do autor francês Honoré de Balzac, escrito entre 1829 e 1842. O livro conta a história de Julie, a infeliz heroína, uma mulher burguesa e deprimida por causa de seus problemas sentimentais e seu casamento fracassado. O romance traz uma linguagem difícil e profunda, mas é também uma obra revolucionária e escândalosa para a sociedade parisiense do início do século XIX.

A protagonista que viveu um casamento distante e infeliz, levava a vida de forma melancólica. Então ela acaba buscando sentido em várias coisas e pessoas e não o encontra nem mesmo na maternidade. 
Mas aos 30 anos, essa mulher se torna madura, mais confiante. Julie está no auge de sua sexualidade e mais segura de si. E logo ela começa a se apaixonar de verdade e sua vida ganha novas cores. 
O livro defende a ideia de que a mulher mais velha ou mais experiente é muito mais interessante do que uma mulher mais nova.

“As moças costumam criar nobres, encantadoras imagens, figuras totalmente ideais, e forjam ideias quiméricas sobre os homens, sobre os sentimentos, sobre o mundo; depois atribuem inocentemente a um caráter as perfeições com que sonharam e a ele se entregam; amam no homem de sua escolha essa criatura imaginária; porém, mais tarde, quando já não há tempo de se livrar da desgraça, a aparência enganadora que embelezaram, o primeiro ídolo enfim transforma-se num esqueleto odioso.” (trecho do livro)

No dia 30 de maio desse ano que se passou, eu completei 30 anos. Eu me tornei uma mulher balzaquiana e cheguei a algumas conclusões. 
A mulher balzaquiana aprendeu muito com seus próprios erros. De tropeço em tropeço, hoje ela se mantém em pé, de cabeça erguida e não é qualquer coisa que a consegue derrubar. Ela sabe diferenciar solitude de solidão, assim como ela sabe diferenciar quem está ao seu lado de quem está apenas com ela. Ao seu lado existem centenas, quem está com ela são poucos, quem está por ela, menos ainda.

Ela tem amigos dentro de si, o tempo, a geografia os distanciou. Eles não estão ao seu lado, mas estão com ela, por ela. Eles sempre serão seus melhores amigos. 
Mas a verdade é que ela é sua própria melhor amiga! Pois sabe apreciar sua própria companhia. Ela fala sozinha, porque não há melhor companhia para se dialogar, senão a sua. Ela se basta por si mesma, porque aprendeu com muita dificuldade a olhar para dentro de si e a ter amor próprio. Afinal, tudo que ela realmente precisa é dela mesma e de Deus.

Ela aprendeu o valor da palavra, da que tem que ser dita do jeito certo e da que não precisa ser falada. Ela prefere o silêncio. Ele é capaz de dizer coisas importantes que seus ruídos jamais poderiam dizer pois nossas muitas vozes são falhas, dúbias, muitas vezes arrogantes. O silêncio acerta. 

A mulher balzaquiana se conhece bem, é madura, experiente e por conta disso, mais racional. Ela não aceita menos do que merece. Nem tudo a agrada, nem tudo a engana. Porque sua vivência dá a ela a sensação de que "já viu esse filme" e aí, meu amigo, ela tira de letra. Ela é forte e passou por muitas coisas, mas aprendeu a amar sua própria história pois foi através dela que ela pôde se reconstruir um milhão de vezes e hoje tem seu caráter forjado.

A mulher de trinta anos, assim como Jesus que começou sua missão no mundo com essa mesma idade, está pronta pra sua própria missão de vida, da vida que ela escolheu. 
Ela é muito mais do que os olhos podem ver, ela é muito mais do que um amontoado de palavras a poderiam descrever. Ela é e pronto. A mulher balzaquiana, que eu sou, não se resumo a um texto. Mas essas palavras trazem uma partícula da imensidão do universo que é ser mulher. Porque essa mulher não se trata apenas de você e eu, ela é múltipla, ela é infinita. Ela é. 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Non ducor duco




Sempre viajo para São Paulo. Tenho muitos parentes paulistanos e também tive a experiência de morar lá durante alguns meses. De todas as paisagens e informações visuais que a cidade me oferecia, uma delas sempre me chamou a atenção: Non ducor duco, do latim, significa "não sou conduzido, conduzo." Essa expressão presente nos ônibus, junto ao brasão da bandeira da cidade, traduz muito bem a vida paulistana, sempre em constante movimento, evolução, seu espírito de liderança, sua correria, entre outras coisas. 

Então, a partir dessa simbologia paulistana, comecei a pensar sobre conduzir ou ser conduzido. Me questionei se eu estava conduzindo, guiando a minha própria história ou sendo conduzida. Passei a me perguntar se eu estava sendo protagonista ou coadjuvante da minha vida e dos meus sonhos.

Nós aprendemos observando exemplos, seguimos protocolos, obedecemos regras, nos vestimos conforme as tendências, consumimos coisas parecidas e por fim, reproduzimos o mesmo. Afinal, é muito mais fácil seguir hábitos e ações preestabelecidas.

Como já dizia Zeca Pagodinho: "E deixa a vida me levar (vida leva eu!)" Sabe quando você vai levando as coisas, simplesmente? Só assinando embaixo e aceitando tudo que lhe aparece sem questionar? Isso acontece porque muitas vezes nós ligamos o modo automático da vida e vamos apenas executando as coisas, sem escolher ou reclamar, às vezes por costume, muitas vezes por pura preguiça mesmo. 

Mas você já olhou para dentro de si e examinou cada questão, cada característica peculiar que você tem? Você já se questionou se suas escolhas são baseadas no indivíduo que você é ou no coletivo? Existe algo que você gostaria de fazer ou usar que você acaba deixando de lado por pensar num consenso, numa opinião coletiva?

Eu penso que se não tomarmos os "lemes" de nossas vidas, podemos ser levados para várias direções ou para direção nenhuma. Se não tomarmos iniciativas para conduzirmos nossos sonhos e objetivos, vamos viver um roteiro escrito previamente, vamos levando as coisas de qualquer jeito, sem um propósito.

É fácil? Nãããão! É extremamente difícil, mas vale a pena. Sermos protagonistas de nossas vidas requer muito empenho, pois é um penoso trabalho e algumas pessoas simplesmente não conseguem. Talvez nesse processo você tenha que nadar contra a maré, contrariar expectativas,  desagradar pessoas, driblar protocolos e/ou desprezar regras. E isso tudo é muito difícil, exige coragem, certeza, opinião, personalidade e irreverência. 

Alguns anos atrás, pensando nisso tudo, eu percebi que estava sendo apenas coadjuvante da minha história e que eu tinha que tomar o leme da minha vida. Refleti muito, tomei decisões, e entao o universo conspirou ao meu favor e tudo foi se encaminhando, todas as coisas foram cooperando para que eu conseguisse encontrar o meu eixo e viver a vida que eu sonhava.
Nesse ano de 2020 eu precisei retomar esse exercício mental e tomar decisões e atitudes que se desdobrariam em mudanças e novidades. Mais uma vez um processo longo e doloroso, mas que valeu muito a pena!

Sendo assim, não posso e nem devo julgar, mas trago à tona essa questão para vocês a fim de propor reflexões. 

Se você vive dessa forma, tudo bem. Digamos que viver assim não é errado, e pode funcionar para muitas pessoas, mas te garanto que é muito melhor direcionar sua vida para o que lhe agrada mais, protagonizar seu caminho e suas escolhas a fim de alcançar suas metas, sonhos etc. É hora de ser quem você sempre sonhou. Abrir novas trilhas, novos caminhos, ao invés de apenas seguir os trilhos. Até porque quem anda nos trilhos é trem.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

 Sobre o Setembro Amarelo, é bom lembrar desse texto do Rubem Alves: 


"Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem  a dizer. (...) Para ouvir não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio de dentro. Ausência de pensamento. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia."

sábado, 25 de julho de 2020


Pior do que uma discussão insistente é um silêncio que fala. Simples, rápido, forte.
Hoje me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis. O silêncio não é dado a amenidades. Ele grita através de um telefone mudo, uma mensagem lida e não respondida, uma conversa quase monossilábica.  São momentos silenciosos que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas, apatia, desespero.

Muitas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem em um beijo, mas sim depois de longos momentos de reflexão. Introspecção cura, mas também pode ser a ante-sala do fim. Palavras articulam argumentos, expõem queixas, tentam ser explícitas, mas nem sempre são justas ou compreendidas. Nessas horas o silêncio pondera, isola, intimida. O silêncio perturba porque às vezes ele fala. E fala alto. Porque é quando não há nem mais palavras que você entende a solidão que ele traz.

(Via Marcia Oura)

domingo, 8 de março de 2020

Quantas cores você tem?

   

Nós mulheres somos encantadoras!

Cheias de particularidades, de detalhes e mistérios, dentro de cada uma de nós existe um universo muito peculiar. Somos mães, filhas, esposas, avós, netas, companheiras e amigas... mas nossas lutas diárias são as mesmas. Carregamos conosco diversos sentimentos: alegria, felicidade, força, vitórias, conquistas, descobertas, e também dores, perdas, tristezas, sofrimentos e decepções. Mas é nesse contexto complexo que se encontram as cores mais bonitas! Em 2012 comecei um projeto sobre esse universo, uma série de desenhos sobre nós mulheres, com intenção de levar cores, aonde não tem cores. Expor e buscar reflexões sobre o ser feminino e suas características, num geral. Em cada mulher, cada desenho que eu faço há muito de mim mesma, pois eles representam meus próprios sentimentos e a minha visão de mundo diante de uma sociedade patriarcal, machista, homofóbica, repressora e opressora. O objetivo maior de tudo isso que tenho feito é exaltar a figura feminina, mostrar sua beleza, sua importância e seu papel relevante no mundo. Mostrar que não somos o segundo sexo, não estamos atrás de alguém, nós não somos segundo plano, não estamos vivendo nossas vidas em função de ninguém além de nós mesmas, nós não somos coadjuvantes da nossa própria história e sim protagonistas! Meu desejo é que todas as mulheres que um dia já foram ou se sentiram oprimidas possam ser consoladas, compreendidas e que a sociedade as olhem de um jeito diferente, ou simplesmente passem a olhá-las. E que todas nós, mulheres, sejamos livres! O projeto "Quantas cores você tem?" busca questionar as mulheres sobre a sua própria identidade. O que você tem dentro de si? Qual a sua história? De onde você veio? Por quantos problemas você já passou? O que você tem vivido? Quais são os seus sonhos? Quais são os seus medos? Que cores eles têm? Quantas cores VOCÊ tem?

Nesse mesmo dia, há exatos 7 anos eu fiz a primeira exposição desse projeto no C.A. do curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina à convite de um amigo. Depois ao passar dos anos recebi outros convites para expor em diversos lugares, inclusive na Prefeitura Municipal de Londrina (em 2016) e esse projeto foi crescendo cada vez mais. Pra mim, esse projeto foi uma experiência incrível e muito significativa. Amei viver isso e ver os frutos desse projeto. Hoje em dia tenho produzido artisticamente através de outras técnicas e desenvolvo um trabalho diferente, mas pretendo produzir mais desenhos e pinturas com esse tema tão importante e especial para mim. 

Nas imagens acima vemos primeiro, a foto que serviu de modelo e inspiração para criar um dos desenhos do projeto. No meio, tem o desenho feito a partir da foto, que inclusive, é o preferido de todos. E na última foto, uma foto-performance sobre a foto e o desenho feita em 2013, que é mais uma brincadeira. Para conhecer todos os desenhos do projeto, eu sugiro que você entre nos meus perfis nas mídias sociais, para conferir melhor todo esse processo e seu resultado:

Facebook: facebook.com/ccaju
Instagram: @c.caju

Feliz dia das mulheres!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Pé de Nabo

Ser assim é uma delícia
Desse jeito como eu sou
De outro jeito dá preguiça
Sou assim pronto e acabou
A comida de costume
Como bem e não regulo
Mas tem sempre alguns legumes
Que eu não sei como eu engulo
Brincadeira, choradeira,
Pra quem vive uma vida inteira
Mentirinha, falsidade,
Pra quem vive só pela metade
Quando alguém me desaponta
Paro tudo e dou um tempo
Dali a pouco eu me dou conta
Que ninguém é cem por cento
Seja um príncipe ou um sapo
Seja um bicho ou uma pessoa
Até mesmo um pé-de-nabo
Tem alguma coisa boa
(Palavra Cantada)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

17 de janeiro



Eu olhei a tristeza nos olhos
E eu sorri
Mesmo quebrantado pela vida que escolhi
Da janela eu vi cada estação fugir
Como as árvores eu permaneço no mesmo lugar
No outono, no inverno, eu espero primavera chegar
Da estrada eu quis retornar para onde partir
Da distância avistei a alegria e a esperança
Das migalhas que desperdiçamos, faremos jantar
Eu voltaria atrás
Pra tentar me avisar
Que o caminho será escuro
Mas que Cristo é a luz do mundo
Deixe Ele te falar quem você é
Que a palavra te desfaça
Que te afogue em Sua graça
Só a cruz esconderá quem você não é
Eu olhei a tristeza nos olhos
E sorri.
(Os Arrais)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Paternidade


O natal sempre me trouxe várias reflexões e aproveitando o espírito natalino e as festas em família, resolvi falar sobre um assunto muito importante e que pode deixar esse clima ainda mais agradável. Quero falar sobre abandono paterno. Confesso que muitas vezes critiquei o natal, porque sempre vi as pessoas dando mais importância para o papai noel, para os presentes e a comilança, do que para o nascimento (ou à pessoa) de Jesus em si. Isso tudo porque, além de não encontrarmos evidências da data exata do nascimento de Jesus, sabemos que a origem do Papai Noel, está relacionada com a figura de São Nicolau. Ele foi um bispo que viveu entre os séculos III d.C. e IV d.C. e se tornou conhecido por conta de sua generosidade e dos milagres que realizou. Mais tarde, o bispo foi transformado em simbolo natalino a partir de uma publicidade da Coca-Cola, ganhando assim popularidade. Então podemos ver que ele pouco se relaciona à pessoa de Jesus e por isso sempre me perguntei o que ou a quem estamos comemorando no natal. Apesar disso, com o passar dos anos fui deixando de lado esse jeito Grinch de ser, porque além de ser um jeito muito chato de passar por essa época do ano, eu admito que amo essa época e suas comemorações. 

Ainda assim eu precisava trazer uma crítica, só que dessa vez ela tem outro foco. Uma nova reflexão me veio à tona recentemente quando vi uma frase no Facebook que me chamou atenção, ela dizia que o papai noel é "papai" porque só aparece uma vez ao ano, dá presentes e vai embora. Isso me fez pensar nas milhares de crianças que são criadas sem um pai por perto, ou que nunca tiveram contato com seu pai. Comecei a pensar sobre essa comparação entre pai e papai noel e mais, relacionei esses dois papéis com Deus, que para muitos, é o Pai celestial. Não estou me referindo à orfandade, e sim especificamente sobre abandono, rejeição e omissão paternal. 
Acredito que essa comparação faz muito sentido sim, afinal, sabemos que hoje em dia o núcleo familiar tem se transformado muito, não encontramos mais aquele velho modelo de família de propaganda de margarina. Segundo estatísticas da Data Popular, em 2013  já existiam 67 milhões de mães no país, dessas, 31% (20 milhões) são mães solo. Em 2013, o Conselho Nacional da Justiça (CNJ) apontou que 5,5 milhões de crianças brasileiras não possuem o nome do pai registrado na certidão de nascimento. A modernidade infelizmente tem tornado as relações mais líquidas, assim como Bauman já havia nos ensinado. E é nesse contexto de mudanças que encontramos também, lamentavelmente, muitas crianças vivendo as consequências do abandono paterno, que pode ser tanto de natureza material, intelectual ou afetiva.

Falando um pouco sobre o conceito de pai no âmbito jurídico, entendemos que a paternidade é tida como direito-dever, construído na relação afetiva e que assume os deveres de realização dos direitos fundamentais da pessoa em formação tais como: “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar” (art. 227 da Constituição). Ou seja, tem-se considerado pai aquele que assumiu os citados deveres, ainda que não seja o genitor. Ou seja, é muito mais do que o simples provimento de alimentos ou a causa de partilha de bens hereditários. É uma relação que envolve mais do que a relação genética, envolve a constituição de valores e da singularidade da pessoa e de sua dignidade humana, adquiridos principalmente na convivência familiar durante a infância e a adolescência, distinguindo-se, portanto,  a figura  do pai e do genitor, pois seus significados são diferentes.

Já as mulheres que desde sempre acumularam mais funções do que os homens, que cuidam da casa, trabalham fora, também têm que cuidar dos filhos. Enquanto os pais pouco ou nada participam, sobrecarregando assim essas mães. Muitas mulheres são humilhadas nesse processo e muitas vezes são induzidas ou pressionadas pelos seus parceiros ao aborto. Muitos homens confundem as coisas, porque ao romper a relação com a mãe de seus filhos, abandonam também as crianças. Até existem alguns pais (ou genitores) que assumem seu papel participando na criação das crianças, convivendo, dando carinho e atenção a eles. Mas a grande maioria dos pais (inclusive até mesmo os que vivem com seus filhos) são ausentes, ou omissos em suas responsabilidades e deveres. Existem exceções sim, mas de uma forma geral, é isto. O pior de tudo é quando esses "pais" participam apenas financeiramente e se gabam por isso. Então eu te pergunto: quanto custa a presença de um pai? Quanto vale o carinho e cuidado de um pai? Eu e muitos filhos por aí sabemos o preço/valor dessa presença (ou ausência) e ela excede ao valor de roupas caras, brinquedos, colégio particular, viagens e tudo o que o dinheiro pode comprar. Posso te afirmar que nada se compara e com nada se compensa. A lei pode exigir que um pai pague pensão mas quem vai obrigar um pai a dar atenção, carinho e cuidado? Amor não se cobra, e precisa ser espontâneo. 

Sei que é um assunto extremamente delicado para qualquer um, inclusive pra mim, porque eu vivi isso, minha mãe me criou sozinha com muita dificuldade (assim como milhares de mães) e também conheço muitas pessoas que viveram o mesmo. E durante minha caminhada tenho refletido sobre quem me tornei e sobre a influência daqueles que me colocaram no mundo. Sei muito bem como é essa ausência paterna e a forma como ela pode nos afetar gerando feridas e traumas como consequências que nunca serão mensuradas. 
São muitos danos psicológicos e emocionais, além de influenciar nossa formação enquanto seres humanos. Muitos desses filhos, podem se tornar pessoas inseguras, depressivas, podem desenvolver baixa autoestima e adicções diversas. Alguns desenvolvem relações amorosas abusivas, imploram por migalhas devido a sua carência afetiva.

Contudo, não sou eu quem vai ditar ou "ensinar" o que é ser um pai aqui. Também não posso simplesmente culpar todos os pais que se encaixam nessa situação, não posso ser juíza de coisa alguma. Acredito que cada um tem sua história, seus motivos e limitações enquanto ser-humano. Mas eu precisava trazer alguns conceitos, relatos e desabafos sobre esse assunto para induzir e provocar reflexões. E não posso deixar de ver tudo isso do ângulo em que a vida me colocou, além de lamentar por quem está no mesmo barco que eu.
Existem alguns meios de lidar com isso e acredito que seja uma escolha muito pessoal. A terapia é um deles, por exemplo. Mas, particularmente, atribuo essa cura, não apenas à terapia, mas também ao nosso Pai celestial. Na verdade não posso afirmar se Ele é homem ou mulher, mas penso que Ele excede gênero ou sexualidade. Penso que ao me relacionar com Ele, passo a ser amada como uma filha, posso encontrar cura, consolo e amor. Amor que muitas vezes me faltou, porém tão profundo e supremo que é maior e melhor do que qualquer pai poderia proporcionar até mesmo para aqueles que possuem um pai presente. 

Por fim, meu desejo é que você pai, possa ter consciência disso tudo e termino com estas palavras de Cecília Meireles:


Como se Morre de Velhice


Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)'

Referências: 
https://www.todamateria.com.br/papai-noel/
https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/a-origem-do-papai-noel.htm
https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/o-papai-noel-foi-criado-pela-coca-cola-saiba-origens-do-natal,6008aaccde6da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
https://super.abril.com.br/historia/papai-noel/
https://brasilescola.uol.com.br/natal/historia-papai-noel.htm
https://jus.com.br/artigos/33778/evolucao-do-conceito-de-paternidade-e-as-consequencias-no-direito-das-sucessoes
https://jus.com.br/artigos/23844/a-constituicao-federal-de-1988-e-o-surgimento-da-paternidade-socioafetiva
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-164/meu-pai-meu-genitor-o-valor-constitucional-do-afeto/
https://manualdohomemmoderno.com.br/comportamento/abandono-paterno-e-uma-epidemia-silenciosa-e-nos-precisamos-urgentemente-falar-sobre-isso
https://falauniversidades.com.br/abandono-afetivo-paterno-alem-das-estatisticas/
http://averdade.org.br/2017/06/cultura-abandono-paterno/