Me deixa continuar espiando na fresta da porta que você deixou entreaberta pra mim. Eu olho e vejo um feixe de luz, um feixe de eus, seus, meus, nossos, sabe? Eu vejo possibilidades. Eu vejo essa linha imaginária entre a gente, esse abismo, esse precipício onde eu me precipito e me lanço no solo infértil do seu coração. Me deixa continuar ouvindo sua fala dúbia que eu sei que às vezes faz curva. Me deixa ficar te analisando e diluindo essa água turva.Não me deixa confundir o sim com o não.Me deixa aqui, eu prometo não incomodar. Assim como nas lojas, eu só vim pra olhar. Mas não feche essa porta! Abra a janela e deixa o ar entrar.Não deixa essa linha imaginária arrebentar. Essa linha cheia de nós, cheia de mim, cheia de ti, esse ruído na sua voz. Esse talvez, um dia quem sabe, esse quase.Esse nó(s) que pode também virar um laço, se nós ficarmos a sós.
(Camilla Caju)