segunda-feira, 26 de setembro de 2016
sábado, 3 de setembro de 2016
O outro
“O que você quer nem sempre
condiz com o que outro sente.
Eu tô falando é de atenção
que dá colo ao coração
E faz marmanjo chorar se
faltar um simples sorriso,
às vezes, um olhar que se
vem da pessoa errada, não conta
Amizade é importante, mas o
amor escancara a tampa.
E o que te faz feliz também
provoca dor
A cadência do surdo no coro
que se forjou
E aliás, cá pra nós, até o
mais desandado
Dá um tempo na função,
quando percebe que é amado
E as pessoas se olham e não
se falam
Se esbarram na rua e se
maltratam...”
(Criolo – Ainda há tempo)
Cá entre nós, nos versos
acima, o Criolo, genial como sempre, fala sobre algumas verdades: as pessoas mal
dão atenção umas às outras. Hoje em dia com toda essa correria das nossas
rotinas, muitas vezes não conseguimos dar a devida atenção às pessoas a nossa
volta. E muitas vezes tudo o que uma
pessoa precisa é de um pouco de atenção, ou de uma palavra, de um olhar, um
abraço ou simplesmente ser escutada, sabe? Um tempo em que você abre mão de todo seu egoísmo para se voltar para o próximo. Mas nós (me incluo nisso) seguimos a vida, voltados para o nosso umbigo e correndo
atrás do vento. E a atenção é importante porra!
Mas a verdade
que mais faz sentido é quando o Criolo diz que: “O que você quer
nem sempre condiz com o que outro sente.” Sim, o que eu quero, sinto e penso
não necessariamente vai ao encontro do que os outros querem, sentem ou pensam. Nem
sempre é a mesma coisa. Nem sempre é recíproco. Assim como x está para y, porém
y não está para x, ou está para z.
Mário de
Sá-Carneiro escreveu: “Eu não sou eu nem
sou o outro, sou qualquer coisa de
intermédio: Pilar da ponte de
tédio, que vai de mim para o Outro.”
E é exatamente assim. Entre duas pessoas existe um abismo, uma mistura
com um pouquinho de um e um pouquinho do outro. Aí surgem as relações, as amizades.
Algumas pessoas chegam e nos cativam de
tal forma que mesmo tendo convivido pouco tempo conosco, nos marcam para o
resto da vida. Algumas pessoas nos encantam, nos surpreendem. Algumas pessoas
deixam marcas, algumas pessoas mudam o nosso jeito de ver as coisas. Pessoas
vêm e vão e eu gosto de acreditar que algumas sempre ficam.

Sou intensa, exagerada,
dramática, extremista... sou louca mesmo.
8 ou 8.000, não consigo
viver de meio-termos. Se gosto, gosto pra caralho. Se odeio, reduzo as coisas a
zero. Se amo, amo de todo meu coração. Se sinto, sinto em excesso. Se quero,
quero demais. Mas depois que tudo passa, quando já não há mais afeto,
esqueço, sou indiferente, implacável, não volto atrás. E se sou amiga, pode
crer que sou mesmo e vou me esforçar pra sempre ser verdadeira e estar “lá”
quando precisarem. E isso não significa
que eu nunca erre com meus amigos, porque não sou perfeita, pelo contrário, sou
cheia de falhas. Apesar de procurar ser
atenciosa com os meus amigos, às vezes falto com atenção também, até porque
tenho déficit da mesma, então é difícil me manter atenta.
Como sou muito visionária,
sempre sonhei ter amizades duradouras, de 30, 40 anos assim como vejo
acontecendo com pessoas que chegam à vida adulta ou na velhice e contam sobre
suas amizades antigas. Esses são os verdadeiros tesouros, privilégios.
Minha mãe me dizia que
ninguém é insubstituível, então não precisava me importar com a ausência de
ninguém, porque sempre vai ter um “novo alguém”.
Apesar de não concordar, reflito
sobre isso até hoje porque algumas pessoas passaram por mim e já não fazem mais
parte da minha vida, pessoas em quem eu confiei, por quem eu me doei e hoje já
não fazem mais sentido.
Jesus disse que ninguém tem
amor maior do que aquele que dá a vida aos seus amigos (João 15:13). Algumas
parábolas de Cristo não podem ser levadas ao pé da letra, mas eu
sempre tentei levar essa a sério. Aliás gosto muito das referências bíblicas
sobre amizade, porque elas dizem que na angústia nasce o irmão, que as amizades
sinceras dão ânimo pra viver e que alguns amigos são mais chegados que um irmão.
Existem relações em que você
só sabe falar sobre como está o tempo, ou dar bom dia, boa tarde e boa noite quando
encontra a pessoa na rua ou no elevador. Tem os colegas, às vezes de classe ou
de trabalho. Tem aquelas pessoas que você conhece durante alguma viagem e troca
mensagens pela internet. Tem os amigos por tabela, que viram amigos seus porque
são amigos dos seus amigos, ou amigos do seu namorado(a). Tem aquelas relações
que você só fala com a pessoa por educação. Porque é algum parente, ou algo do
tipo. Essas são as piores!
E tem também os amigos, os melhores
amigos. E às vezes, tipo raramente, alguns são nossos
irmãos de alma. São aqueles que nos entendem com um olhar apenas. Que dá a
impressão de que os conhecemos há séculos, que adivinham até as palavras da
gente, antes mesmo que elas saiam da nossa boca. Que cuidam da gente, e que
sempre tem a palavra certa que nós precisamos ouvir.
E quando se rompe com tal
nível de intimidade e cumplicidade não se sabe o que fazer, não se sabe o que
pensar, nem o que esperar. Porque quando terminamos um namoro, são os nossos
melhores amigos que nos consolam, que nos ouvem e tentam nos distrair pra não
desfalecermos. Mas e quando se rompe com um melhor amigo? Pra onde é que se
vai? Com que perna se deve seguir? Onde chorar? Quem vai nos ouvir? Surge no
mínimo um pessimismo em relação às amizades. Uma desesperança e arrependimento
por ter alimentado tantos porcos com pérolas. E pensamentos do tipo: “Se
eu fui amiga a tantos anos de alguém que hoje já não faz parte da minha vida,
alguém que caminhava comigo e que hoje está agindo “assim ou assado”... como é que vai ser agora? Como vou ser amiga daqui pra frente? Eu sou amiga? O que é
ser amiga?”.
Tudo isso porque nós só prestamos
atenção no que não está. Nós focamos naquilo que nos falta. E tem dias que a
falta é grande, e que tudo que conseguimos raciocinar, é que dói. É isso, dói. Dói
desde os dedos dos pés até o último fio de cabelo.
Resta-me o silêncio, uma vez que me senti silenciada. O silêncio que constrange e que incomoda. O silêncio que pode ser calmaria, mas também pode ser confronto. Porque existem posturas silenciosas mais danosas do que gritos, pois o silêncio tem a capacidade de dizer coisas que as nossas muitas vozes e palavras não são capazes. E muitas vezes, o não fazer nada, o não agir, pode ser nossa melhor ação.
Resta-me o silêncio, uma vez que me senti silenciada. O silêncio que constrange e que incomoda. O silêncio que pode ser calmaria, mas também pode ser confronto. Porque existem posturas silenciosas mais danosas do que gritos, pois o silêncio tem a capacidade de dizer coisas que as nossas muitas vozes e palavras não são capazes. E muitas vezes, o não fazer nada, o não agir, pode ser nossa melhor ação.
No mais, vou praticando o desapego, a desamizade, a desconstrução e todas as muitas palavras que começam com a letra D e que servem nessa ocasião. Que Deus me ajude a perdoar,
porque entende-lo eu não consigo.
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